To me, you're perfect (Para mim, você é perfeita):
All I want for Xmas (Tudo que quero no Natal):
Novamente: FELIZ NATAL PARA TODOS!!!!!
"Some people believe that RAVENS guide travelers to their destinations. Others believe that the sight of a solitary RAVEN is considered good luck while more than one RAVEN together predicts trouble ahead."
Obsessão
Entre o amor e a loucura repousa a obsessão. Esta que vem ao meu encontro toda noite enquanto procuro por um pouco de paz e alento para minha tão cansada alma. Uma fiel companheira que nunca me abandona, nunca dá as costas para mim. Obsessão que me traz teus olhos. Teus tão belos e agora malditos olhos, que me perseguem cada vez que fecho os meus. Teus lábios, teus tão delicados lábios, que procuro esquecer toda noite, mas que voltam a tocar os meus em um delírio febril e apaixonado, só para me fazer perceber o quão próximo da loucura eu estou.
Porém, me agarro a minha fiel companheira e não a deixo partir, torno-a parte do ar que respiro, torno-a parte do que eu sou. Já não é possível distinguir aonde eu começo e aonde a obsessão termina. Amalgamada em meu espírito, a obsessão dá sinais de vida cada vez que vou repousar e ela, incansável e de beleza inigualável, vem fazer sua serenata para embalar meu sono, que nunca chega, pois fico hipnotizado por sua voz, por sua força, por estar tão próxima de mim e me deixando tão longe de todo o resto.
Nascida e criada pelo amor, a obsessão cresceu e se tornou bela, forte e poderosa, exatamente como o amor era antes de se perder pelos caminhos do destino. Perdido e sem direção como um cego, confio tudo que sou e dou minha mão para a obsessão ser minha guia. E por tortuosos caminhos ela me leva.
“Apenas um dia ruim é o que me separa do resto da humanidade”, já disse o palhaço em sua piada mortal, referindo-se a sua própria loucura. Às vezes temo por minha sanidade e me pergunto se já não ultrapassei a tênue linha que separa a obsessão da loucura e não encontro uma resposta satisfatória, creio que nunca a encontrarei se realmente já tiver ultrapassado-a. Se tudo que basta para que se chegue ao patamar da loucura seja apenas um dia, uma nova pergunta toma forma em minha mente perturbada: o que acontece quando uma única pessoa possui em seu calendário uma vasta quantidade de dias ruins? Tenho medo da resposta que posso encontrar e é por isso que abandono tudo e me deito ao lado da obsessão e espero que ela me traga algum alento. Alguma razão ou sentido. Contudo, somente aquela serenata é o que eu ouço e minha já cansada mente adormece ao som de sua suave voz, minha amada, minha obsessão.
Era uma noite como todas as outras. Nas calçadas, as pessoas caminham em ritmo acelerado, algumas muito sérias e compenetradas, outras, rindo, quase dançando ao ritmo dos sons da cidade. Amigos se encontram e vão para os seus barzinhos favoritos, exaurir todo o cansaço e o estresse de mais um dia de trabalho. Casais andam felizes e abraçados, como se o mundo fosse somente deles e de ninguém mais.
Na rua, carros seguem seus caminhos em um movimento deveras monótono, demarcado pelos semáforos e suas luzinhas coloridas. Carros grandes, carros pequenos. Carros com famílias inteiras dentro. Carros solitários. Carros dirigidos por menores de idade que estão achando o máximo roubarem o carro do papai. Carros movidos não somente à gasolina, álcool ou diesel, mas movidos por sentimentos. Sejam esses sentimentos os das famílias, das pessoas solitárias ou mesmo dos menores de idade.
No meu apartamento, tudo também está normal. A cozinha está limpa. O banheiro também. Na sala, a bagunça organizada de sempre. Meu quarto que deveria ser meu recanto de repouso está lá, vazio, solitário. Faz três noites que não consigo deitar em minha cama. Estou sozinho no meu lar. Se é que ainda posso chamá-lo assim. As luzes estão todas apagadas e estou sentado na sacada olhando o movimento da cidade. Tentando sentir o seu calor. O seu fervilhar. Pois no meu interior, sinto que estou morto. Fico ouvindo por horas o burburinho das pessoas, vejo sorrisos e tento desesperadamente me sentir parte desse mundo. Mas este não sou mais eu. Aquele que era animado e feliz. A vida me pregou uma peça e ainda não consegui superar o acontecido.
As muitas horas passam e continuo sentado, na mesma posição, olhando para a mesma rua. Pessoas diferentes estão passando por aqui. Os carros também. Como não poderia deixar de ser, o movimento vai diminuindo. As pequenas quadras não estão mais lotadas de carros. A quantidade de pessoas passeando nesse horário é bem diminuta. Mas isso não é estranho. Este horário já não é assim tão seguro. As pessoas de juízo preferem ficar em seus lares, divertindo-se da maneira que podem, mas ainda assim, felizes.
É tarde e estou cansado. Segundos antes de me levantar para tentar me recostar em uma rede que possuo, escuto um grito. Olho na direção de que ele veio. Na calçada, quase na esquina, uma moça, vestida de branco, está sendo atacada por um homem alto e de aspecto muito forte. Ele tenta puxar a bolsa dela, mas a jovem segura-se a ela como se estivesse ali uma parte de sua existência e que sem tão precioso item, ela perderia aquilo que a torna viva. A ironia é que nesse momento de embate, o homem puxa algo de seu bolso. Uma faca. Quando ele levanta sua lâmina acima de sua cabeça, ela brilha e reflete a luz de um poste contra os meus olhos. Depois disso, mais um grito, agora desesperado e de dor. Fico parado, simplesmente sem ação. Metros a minha frente, o corpo da jovem jaz inerte, suas roupas, antes tão alvas, agora apresentam tonalidades escarlates. O homem foge, com a bolsa em mãos, ciente de que cumpriu o que pretendia. Já não há ninguém para tentar socorrer a moça. Ninguém para capturar o assassino. E o corpo da menina fica ali, atirado na esquina, até que apareça alguém para socorrê-la ou no máximo, avisar alguma entidade. Mas ninguém aparece. E ela ainda está lá. Morta.
Como eu disse, esta era uma noite, como todas as outras.